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Quando eu te vi pela primeira vez no palco

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Tu passas rutilante em toda a parse
Oh! sol de nossa pátria, oh! sol da arte!...
(Virgílio Várzea)



Quando eu te vi pela primeira vez no palco
 Avassalando as almas,
 N'um referver de palmas,
Cheia de vida e cândido lirismo!
Senti na mente uns divinais tremores...
 E louco e louco,
 A pouco e pouco
Vi rebentar o inferno cataclismo!...

Mil pensamentos galoparam, céleres
 Por minha fronte
 E do horizonte
Quis arrancar os astros diamantinos,
Para arrojá-los a teus pés mimosos
 E arrebatado,
 Fanatizado
Por entre um mar de cintilantes hinos!...

Esse teu busto, a genial cabeça
 Tão bem talhada
 E burilada
Com o escopro límpido da arte,
Tem umas puras fulgurações suaves
 E a tu'alma
 Ardente ou calma
Os corações arrasta por toda a parte!...

A encarnação tu és das maravilhas,
 A doce aurora,
 Branda e sonora
Das teatrais e lucidas idéias!...
Tens no olhar o filtro que arrebata
 E és profética
 E magnética,
Possuis na voz o som das melopéias!...

És a escolhida pare as grandes lutes
 Esplendorosas
 E majestosas!...
E sobre os débeis, delicados ombros,
Bem como Homero a sua lira d'ouro,
 Resplandecente,
 Trazes pendente
O Infinito enorme dos assombros!...

Quando apareces tudo ri e chore,
 Se endeusa, agita,
 Como que palpita
N'uma explosão de férvidos louvores!.
E o potentado mais febril da terra
 Gagueja um bravo,
 E faz-se escravo
O mais severo e nobre dos senhores!...

A Dejaset, uma Favart, Rachel,
 O João Caetano
 Como um arcano
Imperscrutável, hórrido, terrível!...
Quebram as louças sepulcrais e frias
 E te louvando
 Vão reinando...
Dizem que é sonho, é mito, é impossível!

Oh! tu nasceste para suplantar, JULIETA
 Os grandes mundos,
 Os mais profundos
D'ess'arte bela, magistral, divina!...
E esse olhar tão expressivo e terno
 Já eletriza
 E cauteriza...
É como um raio que a corações fulmina!...

Que sol é este, vão bradando os pólos,
 Tão sobranceiro,
 Que o brasileiro
O vasto império confundindo está?!...
Venham teólogos, venham sábios... todos
 Venham troianos,
 Venham germanos,
Venham os vultos da Caldéia, lá!...

Oh! resolvei o mais atroz problema,
 Fundo mistério,
 Alto, sidério
Do gênio altivo na criança, ali!...
Vamos, natura, rasga o véu dos medos,
 Dizei ó mares,
 Falai luares,
Sombras dos bosques, respondei-me aqui!...

Astros da noite, tempestades, ventos
 Erguei as vozes,
 Falai velozes
N’um som estranho, n’um clangor audaz!...
E respondei-me e explicai ao orbe
 Se essa menina,
 Que nos fascina
É um fenômeno ou outro tanto mais!...

Tudo emudece na natura imensa
 E desde os Andes,
 Dos cedros grandes
Ao verme, à pedra, às amplidões do mar!...
Tudo se oculta na invisível raia
 No espaço a bruma,
 No mar a espuma
Vão-se esgarçando também, a se ocultar!...

Tudo emudece na natura imensa
 Quando na cena
 Surges serena
Como a visão das noites infantis!
Dos olhos vivos dos que são teus adeptos
 Bem como prata
 Eis se desata
A aluvião de lágrimas febris!...

É que tu tens esse poder superno
 Real, sublime
 Que até ao crime
Faz arrastar o mísero mortal!
É que tu és a embrionária horrível,
 Mística, ingente
 Que de repente
Fazes de um ser estúpido animal!...

Tudo emudece na natura imensa
 Desde nos campos
 Os pirilampos
Até as grimpas colossais do céu!...
Tudo emudece e até eu JULIETA,
 Já delirante
 Vou vacilante
Cair-te aos pés como um servil, um réu!!...