Que há de ser o amor um só
Uma alma do abrasador
Frecheiro é gloriosa palma;
Quem pois sacrifica ũa alma,
Deve adorar um Amor.
Rende Amor por majestade
Do entender a excelência,
Da memória a persistência,
A inclinação da vontade.
Prendem belas sujeições
O coração nos ardores;
Quem pois cria dois amores,
Há mister dois corações.
Inconstante há de lograr
Dois fogos, por mais que anele:
Pois quando cuida naquele,
Neste já deixa de amar.
Inteiro amante não é,
Que no florido primor,
Partida a flor, não é flor,
Partida a fé, não é fé.
Amor é Sol no sujeito
Que belos incêndios cria;
E se brilha um Sol no dia,
Um amor brilhe no peito.
Veneno amor é julgado;
Mate pois, quando o condeno,
Se um veneno, outro veneno,
Um cuidado, outro cuidado.
Há de ser no coração
Um, ou outro emprego belo,
Agrado sim, não desvelo,
Faísca sim, chama não.
Venero enfim, se avalio
Entre muitos um desejo,
Muitas damas no cortejo,
Ũa Anarda no alvedrio.