Recolta de Estrelas
RECÓLTA D’ESTRELLAS
Filho meu, de nome escripto
Da minh’alma no Infinito.
Escripto a estrellas e sangue
No pharol da lua langue...
Das tuas azas serenas
Faz manto para estas penas.
Dá-me a esmola de um carinho
Como a luz de um claro vinho.
Com tua mão pequenina
Caminhos em flôr me ensina.
Com teu riso fresco e suave
Oh! dá-me do encanto a chave.
Do teu florão d’Innocencia
Dá-me as rosas da Clemencia.
Como outro Jesús bambino,
Esclarece-me o Destino.
Traz luz ao mundano pégo
Onde sigo, mudo e cégo...
Com teus enleios e graça
Nos meus cuidados perpassa.
Este peito accênde, inflamma
Na mais sacrosanta chamma.
Faz brotar nevados lyrios
Das cruzes dos meus martyrios.
Dá-me um sol de estranho brilho,
Flôr das lagrimas, meu filho.
Rebento triste, orvalhado
Com tanto pranto chorado.
Filho das ancias, das ancias,
Das mysteriosas fragrancias.
Filho de aromas secrétos
E de desejos inquietos.
De suspiros anhelantes
E impaciencias clamantes.
Filho meu, thesouro mago
De todo este affecto vago...
Filho meu, torre mais alta
De onde o meu amôr exalta.
Amphora azul, de onde o incenso
Dos sonhos se eléva denso
Contellação flammejada
De toda esta vida anciada.
Crysol onde lento, lento
Purifico o Sentimento.
Iris curioso onde gyro
E allucinado deliro.
Signo dos signos extremos
Destes tormentos supremos.
Orbita de astros onde pairo
E em febre de luz desvairo.
Vertigem, vertigem viva
Da paixão mais convulsva.
Traz-me uncção, traz-me concórdia
E paz e misericórdia.
Do teu sorriso a frescura
Rios de ouro abra, na Altura.
Abra, accenda labarédas,
Illuminando-me as quédas.
Flôr nocturna da luxuria
Brotada de haste purpurea.
Dos teus olhos dadivosos
Escorram óleos preciosos...
Oleos candidos, dos mundos
Maravilhosos, profundos.
Óleos virgens se derramem
E o meu viver embalsamem.
Embalsamem de eloquentes,
Celestes dons prefulgentes.
Para que eu possa com calma
Erguer os castellos da alma.
Para que eu durma tranquillo
Lá no sepulchral Sigillo.
Ó meu Filho, ó meu eleito
Deslumbramento, perfeito.
Traz novo esplendor ao facho
Com que altos Mysterios acho.
Meu Filho, frágil e térno,
Soccórre-me do atro Inferno.
Onde vibram gladios duros
Por ergástulos escuros.
E cruzam flammineas, fortes,
Negras vidas, negras mortes.
Onde técem Satanazes
Sete circulos vorazes...
1.º de Outubro de 1895.