Reflexões sobre a Vaidade dos Homens (1980)/CXXI
Aspeto
Contra o nosso parecer, nunca achamos dúvida bastante, contra o dos outros sim. A vaidade é engenhosa em glorificar tudo o que vem de nós, e em reprovar tudo o que vem dos outros: nas produções do engenho há uma espécie de criação; daqui procede que ninguém se desdiz sem repugnância, porque a natureza é inflexível no intento de conservar aquilo que produz, e a vaidade nunca renuncia ao lustre da invenção; queremos produzir muito, e meditar pouco, por isso erramos; mas depois que o erro se naturaliza em nós, já o não vemos, senão com a figura de razão.