Reflexões sobre a Vaidade dos Homens (1980)/V
Aspeto
O não fazer caso do que é vão, também pode nascer de uma excessiva vaidade, e a este grau de vaidade não chega aquela, que é medíocre, e ordinária; e desta sorte o excesso no vício da vaidade vem a produzir a aparência de uma virtude, que é a de não ser vaidoso: e com efeito assim como o excesso na virtude parece vício, também o excesso no vício vem de algum modo a parecer virtude. Na maior parte dos homens se acham os mesmos géneros de vaidade, e quási todos se desvanecem dos mesmos acidentes, de que estão, ou se imaginam revestidos: porém alguns há, em quem a vaidade é misteriosa, e esquisita; porque consiste em desprezar a mesma vaidade, e em não fazer caso dos motivos, em que se funda a vaidade dos outros.