Refutação de todas as heresias/I/XVIII

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Os estóicos também fizeram avanços na filosofia, a principalmente na arte do silogismo, e incluíram quase tudo em definições, sendo que Crísipo e Zenão coincidiram neste ponto. Igualmente, eles supunham que Deus era o princípio criativo de todas as coisas, sendo um corpo da máxima pureza, e seu cuidado providencial penetra todas as coisas; e esses especuladores estavam certos de que o destino estava em todos os lugares, empregando exemplos como estes: que assim como um cão, supondo que ele esteja amarrado junto a um carro, ele pode ir de boa vontade, fazendo exercício de seu livre-arbítrio, de acordo com a necessidade[1], ou ser arrastado, quando ele não está disposto a seguir, sendo forçado a fazer; assim funciona o destino. E o mesmo, obviamente, funciona no caso do homem. Mesmo que ele não esteja disposto a seguir o seu destino, ele será compelido a seguir o que foi decretado a ele. Os (estóicos) afirmam que a alma permanece após a morte[2], mas que tem um corpo (próprio), e que este é formado através da refrigeração da atmosfera; daí também é chamada psique (alma). E eles confessam do mesmo modo que há uma transição de almas de um corpo para outro, isto é, para as almas cuja migração foi destinada. E eles também aceitaram a doutrina de que haverá uma conflagração, uma purificação deste mundo, em que alguns dizem que será completa, enquanto que outros dizem que será parcial, e outro que dizem que (o mundo) está se destruindo; e tudo isso, exceto a corrupção e a produção daí de outro mundo, eles chamam de purgação. E eles admitem a existência de todos os corpos, e que corpos não passam para outros corpos[3], mas que uma refração[4] acontece, todas as coisas envolvem plenitude, não existindo o vácuo. Estas foram as opiniões dos estóicos também.

Notas[editar]

  1. Num dos manuscritos está escrito assim: "Mas se não estiver disposto, há absolutamente uma necessidade de arrastado ao longo. E do mesmo modo, homens, se não seguirem o destino, parecem ser agentes livres, ainda que o destino da razão (de existência) seja válido. Se, entretanto, eles não quiserem cumprir seu destino, eles serão coagidos a cumprir o que já foi ordenado.
  2. Ou "é imortal". Diógenes Laércio nota, na sua seção sobre Zenão, como parte da doutrina estóica, "que a alma permanece após a morte, mas é degradável".
  3. Ou "através do que é incorpóreo"; isto é, através do espaço vazio.
  4. Ou "ressureição" ou "resistência"; isto é, um meio resistente.