Regina Cœli (Cruz e Sousa, 1893)
Ó Virgem branca, Estrella dos altares,
Ó Rosa pulchra dos Rosaes polares!
Branca, do alvor das ámbulas sagradas
E das niveas camelias regeladas.
Das brancuras da sêda sem desmaios
E da lua de linho em nimbo e raios.
Regina Cœli das sidéreas flôres,
Hostia da Extrema-Uncção de tantas dôres.
Ave de prata e azul, Ave dos astros...
Santélmo accêso, a scintillar nos mastros...
Gondola ethérea de onde o Sonho emérge...
Agua Lustral que o meu Peccado aspérge.
Bandolim do luar, Campo de giésta,
Egreja matinal gorgeiando em festa.
Arôma, Côr e Som das Ladainhas
De Maio e Vinha verde d'entre as vinhas.
Dá-me, atravez de canticos, de rézas,
O Bem, que almas acérbas torna illésas.
O Vinho d'ouro, ideal, que purifica
Das seivas juvenis a força rica.
Ah! faz surgir, que bróte e que florêsça
A Vinha d'ouro e o vinho resplandêsça.
Pela Graça immortal dos teus Reinados
Que a Vinha os fructos desabroche iriados.
Que fructos, flôres, essa Vinha bróte
Do céo sob o estrellado chamalóte.
Que a luxuria poreje de aureos cachos
E eu um vinho de sol beba aos riachos.
Virgem, Regina, Eucharistia, Crœli,
Vinho é o clarão que ao teu Âmor impélle.
Que desablrócha ensanguentadas rosas
Dentro das naturezas luminosas.
Ó Regina do Mar! Cœli! Regina!
Ó Lampada das naves do Infinito!
Todo o Mysterio azul desta Surdina
Vem d'estranhos Missaes de um novo Rito!...