Retratação (Luís Delfino)

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Como em incude cai e bate o camartelo,
A golpes desdobrando o fio de oiro fino,
Vênus, que, como um mestre em mármore, cinzelo
Em sonoroso verso, e em ritmo peregrino,

Eu, em cólera cega, eu hoje te revelo
O que traço, o que crio, ergo, animo e imagino:
Para mim jamais foste este sonho divino,
Não copiei jamais de ti o ideal do belo.

Para minha vingança eterna, eu quero agora
O que de grande e bom, para viver, precisas:
E enquanto dentro em mim tudo soluça e chora,

Sopre-te o céu em roda o aroma azul das brisas,
Encadeie-te o corpo aurora sobre aurora,
Sol após sol te enleie e doire o chão que pisas...