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Sabor

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Os ingleses, fidalgo entendimento de artista, para significar - o melhor - dizem na sua nobre língua de prata: the best...

O que os ingleses chamam the best é finamente o que eu quero exprimir com a palavra — sabor — que, para a requintada espiritualidade, marca alto na Arte — filtrada, purificada pela exigência, pelo excentrismo da Arte.

Após a delícia frugal de um lunch de frutas silvestres e claros vinhos, numa colina engrinaldada de rosas, quando o sol sob nuvens aparece e desaparece, numa confortante meia-sombra de luz, não é apenas o gozo das frutas e dos vinhos que te fica saboreando no paladar.

O asseado aspecto do dia levemente frio, agulhante nas carnes , o ouro novo do sol em cima, a cor bizarra, correta do verde luxuoso, o gelo fresco e cristalino nas taças sonoras espumantes de líquidos vaporosos, e o viçoso encanto de formosas mulheres, indo em bocas de aurora e dentes de neve. — toda essa impressionante, alegre palheta de pintura à água, aflora num esplendor de gozo a que tu bem podes chamar o raro sabor das coisas.

A clarividência na atitude dos perfis que a essa hora pintalgam a paisagem de colorido variado, o aroma que de tudo vem e que de tudo sobe para a serenidade azul, o ritmo simpático do momento, a lassitude branda de nervos, que engolfa as idéias numa larga felicidade amável — como em amplos coxins de arminho — todas essas preciosas maneiras e pitorescos estilos que dão linha, grande tom ao viver, fazem, enfim, que de tudo se experimente um radiante, aguçado sabor.

Não basta, pois, o paladar. Esse, apenas, materializa. Não é, portanto, suficiente, que se sinta o sabor na boca, que o examine, que se o depure, que se o saiba distinguir com acuidade, com atilamento. É necessário, indispensável que, por um natural desenvolvimento estético, se intelectualiza o sabor, se perceba que ele se manifesta na abstração do pensamento.

Por fim, as palavras, como têm colorido e som, têm do mesmo modo, sabor.

O cinzelador mental, que lavora períodos, faceta, diamantiza a frase; a mão orgulhosa e polida que, na escrita, burila astros, fidalgo entendimento de artista, deve ter um fino deleite, um sabor educado, quando, na riqueza da concepção e da Forma, a palavra brota, floresce da origem mais virginal e resplende, canta, sonoriza em cristais a prosa.

Para a profundidade, a singularidade de todo o complexo da Natureza, o artista que sente claro, entende claro, pensa claro, saboreia claro.