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Solução

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Curvado sobre a mesa onde redigia penosamente um bilhete à amante, o bacharel Anastácio não ouvia as passadas da mulher, que, no andar superior, se vestia para sair. Estavam em divergência há dois dias. De vez em quando a discussão estalava, trocando-se palavras, que atingiam o alvo e ricocheteavam com a mesma violência.

De repente, um perfume doce, de Royal Begonia, espalha-se pelo gabinete. E enquadrando-se na moldura da porta, abotoando nervosamente as luvas, a figura mundana, acentuadamente chic, de Dona Vivi.

Não é alta, nem baixa. Clara, olhos negros, boca rasgada, de dentes magníficos, é o tipo comum da raça. Os braços finos e brancos, descem, nus, como duas hastes de lírio, desde a confluência do corpo. Calça, no máximo, 34, e os sapatinhos, bicando as flores vermelhas do tapete azul, são como dois beija-flores sugando a mesma roseira.

De pijama, a cabeça curvada, Anastácio parece mais uma trouxa sobre uma cadeira do que um animal vivo. Não se move. Se se erguesse, toda a gente lhe veria a altura incomum, o nariz cumprido, o rosto longo e estúpido, os defeitos, em suma, que ele, como as serpentes, disfarça quando se enrodilha.

Fisionomia de indignação, as narinas batendo como as asas de uma pequena borboleta, Dona Vivi estaca, a dois passos do marido.

— Pronto; vou sair, — informa, sem delicadeza.

— Boa viagem, — responde o rapaz, sem voltar-se.

Dona Vivi morde, nervosa, o beiço vermelho.

— Preciso de duzentos mil réis, — adianta.

Um risinho canalha do marido dá-lhe um tremor de indignação.

— Se você não me der — explode, — terei de pedir a outro homem!

A essas palavras Anastácio volta-se, de súbito, na cadeira. A tempestade vai, com certeza, estalar. Vivi encolhe-se, como se já estivesse sentindo na cabeça, esmigalhando-lhe o chapéu, os punhos de ferro do marido. Enroscaram-se os dois: ela apavorada, ele, indeciso.

— Queres saber de uma coisa, Etelvina? — diz, ao fim de um instante.

E adoçando a voz:

— Arranja quatrocentos. Eu também preciso de duzentos...