Suspiros, que pertendeis

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Suspiros, que pertendeis
Com tanta despesa de ais,
Se quando um alívio achais,
todo um segredo rompeis?

Não vedes, que a opinião
sente o segredo rompido,
quando no alívio adquirido
Consta a sua perdição?

Não vedes, que se acompanha
o desafogo do peito,
mais se perde no respeito,
do que no alívio se ganha?

Não vedes, que o suspirar
diminui o sentimento,
usurpando ao rendimento
tudo, quanto dais ao ar?

Mas direis, que uma tristeza
publica a sua desgraça,
porque o silêncio não faça
inútil sua fineza.

Direis bem, que o padecer
da beleza é pundonor,
e guardar segredo à dor
será agravar seu poder.

Eia, pois, coração louco,
suspirai, dai vento ao vento,
que tão grande sentimento
não periga com tão pouco.

Quem disser, que suspirais
por dar à dor desafogo,
dizei-lhe, que tanto fogo
ao vento se acende mais.

Não caleis, suspiros tristes,
que importa pouco o segredo
e jamais me vereis ledo,
como algum tempo me vistes.