Tuberculosa (1893)
Alta, a frescura da magnolia fresca,
Da côr nupcial da flôr da laranjeira,
Doces tons d'ouro de mulher tudesca
Na velludosa e flava cabelleira.
Raro perfil de marmores exactos,
Os olhos de astros vivos que flammejam,
Davam-lhe o aspecto excentrico dos cactus
E esse alado das pombas, quando adejam...
Radiava n'ella a incomparavel messe
Da saude brotando vigorosa,
Como o sol que entre névoas resplandésce,
Por entre a fina pelle côr de rosa.
Éra assim luminosa e delicada,
Tão nobre sempre de belleza e graça
Que recordava pompas de alvorada,
Sonoridades de crystaes de taça.
Mas, pouco a pouco, a ideal delicadeza
D'aquelle corpo virginal e fino,
Sacrario da mais limpida belleza,
Perdeo a graça e o brilho diamantino.
Tysica e branca, esbélta, frigida e alta
E fraca e magra e transparente e esguia,
Tem agora a feiçio de ave pernalta,
De um passaro alvo de apparencia fria.
Mãos lyriaes e diaphanas, de neve,
Rosto onde um sonho aéreo e polar fluctúa,
Ella apresenta a fluidez, a leve
Ondulação da vaporosa lua.