Um deus de rasto
Aspeto
Foras minha sultana favorita,
Mas em ti só eu tendo o meu serralho
Sendo de todas sempre a mais bonita,
Não me deras na escolha algum trabalho.
Em teu cálix de neve o branco orvalho
Bebera, ó lírio, que esta terra habita:
Vales os sóis da abóbada infinita,
E o pó, que pisas, para ti não valho...
Fosse eu um Lear, rei inda que louco,
Vulcano, um deus inda que coxo, a troco
Do que tenho a viver; — rei, deus, sim! eu
De rasto, humilde, curvo, ao chão bem rente,
Tu me negaras desdenhosamente
O lamber-te um dos pés, como um lebreu...