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Um jantar no júri

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A função de jurado é uma das mais nobres da nossa sociedade. A lei exige mais pureza de vida para o ser do que para receber o subsídio de deputado. Nenhum processo por tais e quais crimes e infrações, nem mesmo que seja neles absolvido.

Os sábios gabam muito a Inglaterra por ter instituído semelhante espécie de julgamento e doutores em leis clamam contra a intervenção dos leigos nos seus domínios, por intermédio da famosa criação jurídica inglesa.

Certo dia recebi na minha repartição a intimação para ser jurado.

Fiquei contente, porque ia desempenhar uma alta função social.

No dia aprazado, para lá fui e, indagando onde era o tribunal, quase fui recebido à pedrada pelos meirinhos, escrivães e mais gente da justiça. Curiosa maneira de receber um ilustre juiz de fato!

Sentei-me em uma cadeira e esperei o juiz pacientemente. A sessão foi aberta com todas as formalidades e fui sorteado para fazer parte do conselho de sentença.

O promotor falou e, depois, o advogado da defesa fez a sua falação. Que curioso advogado! Tinha uma voz de sino e uma grande consideração pelos conhecimentos dos jurados. Em dado momento, explicou:

— Meus senhores, o réu é um benemérito. Como vigia da estrada de ferro retirou da linha um calhau. Calhau, meus senhores, é uma pedra grande.

Os debates ainda não tinham terminado às cinco horas e os meus colegas de júri reclamaram jantar, porque a máxima preocupação dos jurados é comer à custa do governo.

Veio o jantar e eu, escolhido presidente, me sentei à cabeceira da mesa. Era o mais moço.

Após a sopa, nós nos servimos de peixe à brasileira.

Um dos do fim da mesa, tendo comido algumas garfa­das, exclamou:

— Achei uma barata.

Ao ouvir este senhor tão bem educado, um outro jurado disse:

— Mas está muito bom.

Careta, Rio, 21-8-1915.