Um raio de luar
Alta noite ele ergueu-se. Hirto, solene.
Pegou na mão da moça. Olhou-a fito...
Que fundo olhar!
Ela estava gelada, como a garça
Que a tormenta ensopou longe do ninho,
No largo mar.
Tomou-a no regaço... assim no manto
Apanha a mãe a criancinha loura,
Tenra a dormir.
Apartou-lhe os cabelos sobre a testa...
Pálida e fria... Era talvez a morte...
Mas a sorrir.
Pendeu-lhe sobre os lábios. Como treme
No sono asa de pombo, assim tremia-lhe
O ressonar.
E como o beija-flor dentro do ovo,
Ia-lhe o coração no níveo seio
A titilar.
Morta não era! Enquanto um rir convulso
Contraíra as feições do homem silente
— Riso fatal.
Dir-se-ia que antes a quisera rija,
Inteiriçada pela mão da noite
Hirta, glacial!
Um momento de bruços sobre o abismo,
Ele, embalando-a, sobre o rio negro
Mais s'inclinou...
Nesse instante o luar bateu-lhe em cheio,
E um riso à flor dos lábios da criança
À flux boiou!
Qual o murzelo do penhasco à borda
Empina-se e cravando as ferraduras
Morde o escarcéu;
Um calafrio percorreu-lhe os músculos...
O vulto recuou!... A noite em meio
Ia no céu!
DESPERTAR PARA MORRER
— "Acorda!"
— "Quem me chama?"
— "Escuta!"
— "Escuto..."
— "Nada ouviste?"
— "Inda não..."
— "É porque o vento
Escasseou."
— "Ouço agora... da noite na calada
Uma voz que ressona cava e funda...
E após cansou!"
— "Sabes que voz é esta?"
— "Não! Semelha
Do agonizante o derradeiro engasgo,
Rouco estertor..."
E calados ficaram, mudos, quedos,
Mãos contraídas, bocas sem alento...
Hora de horror!...