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Uma Campanha Alegre/I/VII

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VII

Junto 1871.

Todos os jornaes, na épocha de eleições, teem os seus candidatos predilectos. Os jornaes francezes lançam os nomes d’esses, á adhesão publica, no alto da pagina, em typo enorme. Os jornaes portuguezes é n’uma prosa dormente que os aconselham, com recato.

Nós possuímos também dois candidatos queridos.

São:

O Dr. João das Regras!

O condestável D. Nuno Álvares Pereira!

São estes dois cavalheiros — cidadãos! — a expressão gloriosa da sua Pátria. Um é o seu pensamento jurídico, outro o seu valor heróico. Qual será o liberal inteligente que recuse o seu voto a estes dois homens históricos? Valerá mais o Sr. José de Morais, ou o Sr. Coelho do Amaral?! E depois quem, como o Sr. João das Regras, velaria pelos foros populares? Quem como o condestável manteria a independência da Pátria? — À urna, cidadãos!

Podem apenas pôr-nos uma objecção — pequena por si, mas que talvez influa nos

ânimos timoratos: é que o doutor e o condestável morreram há quatro séculos!

Pois bem! nós afirmamos que esse detalhe nada importa, porque eles se acham em identidade de circunstâncias com a grande parte dos candidatos que se apresentam por esses círculos, de Norte a Sul do País! Todos esses beneméritos estão na realidade tão mortos como João das Regras, e como D. Nuno Alvares Pereira!

Debalde passeiam! Debalde falam! Estão mortos. Viver para sentir fisicamente é simples — basta que os pulmões respirem, que o sangue circule, que o alimento se digira.

Mas viver para legislar e pensar é mais complexo — é necessário que a inteligência e a consciência estejam em vigor, trabalhando. Ora grande parte dos senhores candidatos têm aquela porção do seu ser tão morta como o Dr. Regras, ou o condestável Pereira.

Com efeito, no sentido de legislar, organizar, e dirigir um país — viver é ser do seu tempo, estar no seu momento histórico, ajudar a criação social do seu século, sentir a comunhão das ideias novas. Ser democrata de 20, ou carlista de 36, ou cabralista de 45, ou regenerador de 51 — não é viver, é recordar-se. E, por este lado, quem sabe também se os mortos se recordarão?

Por consequência, como a maioria dos candidatos se acham mortos e embalsamados no seu próprio corpo — estão na categoria em que se encontram os defuntos Regras e Álvares Pereira.

Propomos pois:

O DOUTOR!

O CONDESTÁVEL!

Podem todavia observar-nos:

Sendo verdade (como é) que os srs. deputados estão mortos no seu espírito — é também verdade que estão vivos no seu corpo, que podem dizer presentes! na chamada, e que desta condição não se gabam o doutor e o condestável, os quais, sendo um punhado hipotético de pó, não podem ter a pretensão, verdadeiramente tirânica, de dizerem presentes! — como o Sr. Melício, ou o Sr. Carlos Bento, que são de carne!

Bem! Então uma vez que é necessário um vulto, um corpo, uma pouca de matéria,

Todos os jornais, na época de eleições, têm os seus candidatos predilectos. Os jornais franceses lançam os nomes desses, à adesão pública, no alto da página, em tipo enorme. Os jornais portugueses é numa prosa dormente que os aconselham, com recato. para que os senhores secretários os possam tomar como personalidades — propomos:

A ESTÁTUA DE CAMÕES.

A DE JOÃO DE BARROS.

Não nos dirão decerto que estes não tenham forma, medida, peso! À urna, pois!

Mas podem fazer-nos sentir:

Que se estes últimos cavalheiros têm a condição corpórea, lhes falta a condição vocal — aquela grande condição de deputado que consiste em dizer:

— Apoiado!

Nesse caso, como não temos a pretensão de provar que o bronze e a pedra possuam uma extrema facilidade de locução — propomos:

Dois papa gaios, à escolha do sr. marquês de Ávila!

VIII