Uma Rapariga Apressada
Catulie Mendes
A honesta avozinha começou primeiro por dar um par de bofetadas na pequena desavergonhada, e, depois, enquanto a rapariga chorava a bom chorar; vermelha como uma papoula, fez-lhe este discurso:
— É, pois, verdade, teres um amante? E confessas, ousas confessar? Um amante! E só com dezesseis anos! Com os olhos baixos, o arzinho modesto, parece que não quebras um prato, e chegaste já a esse ponto no deboche e no cinismo! Quem te visse julgaria só em bonecas ou num bebê japonês e, afinal, a boneca que a menina tinha na cabeça é um homem! Que vergonha! É para uma pessoa fugir, meter-se pelo chão a baixo! Como? Foi essa a educação que recebeste? Não tendo na família senão bons e virtuosos exemplos, como pudeste cometer uma falta tão grande? É preciso, palavra de honra, que tivesses o diabo no corpo!
Mas o que mais exasperava a avó era ter a Luizinha conseguido enganá-la, apesar da vigilância que sobre ela tinha exercido.
— Porque, enfim, posso dize-lo afoitamente, eu guardava-te noite e dia! Há três anos que estás na minha companhia, e nunca saíste sozinha senão duas vezes: a primeira, há oito dias, durante cinco minutos para comprar linha e agulhas, e a segunda anteontem, durante uma hora, para ires a Batignolles ver a tua tia que está doente. E uma hora só foi bastante para te aniquilares! As mais doidas, esperam que lhes façam a corte, resistem um mês, seis meses, mesmo um ano, mas tu, não, tu estavas muito apressada! Ah! brejeira! Numa hora, tu...
Mas a rapariga, que, mesmo chorando, era bonita, interrompeu:
— Não avozinha, não; estás enganada; não foi dessa vez.
E desatando em choro:
— Foi da primeira...