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Víbora (Luís Delfino)

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Baba, víbora esquálida e medonha,
Triste réptil sem pejo e amor e crenças:
Transponho, enquanto escorre-te a peçonha,
Curvas, em capitéis de oiro suspensas.
 
Vou, — águia, onde não vais, nem, — céu, ir pensas.
Serena, como quem ou cisma ou sonha,
Furtando o casto rosto às trevas densas,
Ala-se a Musa acesa de vergonha;
 
Quem afrontá-la, quem feri-la pode,
Quando atrelando dois leões à ode
Sobe inda além das regiões eternas?
 
Fogem-lhe em grupo os sóis, como centelhas;
Rugem-lhe atrás constelações vermelhas,
Entrando as ígneas fauces das cavernas...