Valha o diabo os cajus

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Valha o diabo os cajus,
que a todos tem degradado,
uns vão caminho das ilhas,
outros caminho dos campos.
Assim me coube por sorte
ir um dia degradado
para a de Jorge de Sá,
que é ilha dos mEus pecados.
Saímos com vento em popa,
mas no mais triste pangaio,
que nasceu de embarcações,
de que foi Eva a Nau Argos.
Desembarcamos em terra,
e querendo registar-nos
com nossas cartas de guia,
que nos deu o saibam quantos:
Achamos deserta a ilha
sem câmara, nem senado,
que os cajus são restringentes,
não houve câmara este ano.
Tornamo-nos a embarcar
no mesmo triste pangaio
em demanda de outra ilha,
em que o degredo compramos.
Não pudemos tomar terra
porque era o vento contrário,
assoprava pelo olho,
e era o tal olho o do rabo.
Porque vento tão maldito,
e tão despropositado
só por tal olho saíra,
para nos ir espeidando.
Tomamos porto na pátria
depois de tantos trabalhos,
fomes, que em terra curtimos,
sustos, que no mar tragamos.
Fomos mui bem recebidos,
porque o passado passado,
e sobre os cargos da culpa
nos deram logo outros cargos.
Todos saímos com vara,
como meirinhos do campo
sobre os pobres dos cajus
prendendo, e executando.
Indo a eles uma tarde,
prendemos quase um balaio,
outros deixamos pendentes,
que é o mesmo, que enforcados.
Os maduros se prenderam,
que era a ordem, que levamos,
mas os verdes se enforcaram,
por serem cajus velhacos.
O Meirinho-mor do Reino,
que é Custódio Nunes Daltro,
não larga a vara, e os cajus
andam como homiziados.
Tem uns alcaides pequenos,
que andam correndo esse campo,
e vão ligeiros de pé
por vir pesados de papo.
Este castigo merece
Cururupeba afamado,
porque os engenhos não moem,
e o rio é, quem paga o pato.
Em se acabando os cajus,
as varas vão co diabo,
salvo formos meirinhar
aos airus por esses campos.