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Versos à Infância

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(Desterro)



I

Nos roseirais, ao vir da madrugada,
Desabrocham no val todas as rosas,
Nos galhos cheios de uma luz doirada,
Meigas e frescas, rubras, perfumosas,
Nos roseirais, ao vir da madrugada.

Como em bocas cheirosas e vermelhas
Pousam beijos de amor e de ventura,
O mel lhe sugam todas as abelhas
Pousando em cima da corola pura
Como em bocas cheirosas e vermelhas.

Desde os campos, o bosque, até aos montes
Tudo renasce num jardim de flores;
E pelo azul do céu, nos horizontes,
Há os mais vivos, raros esplendores,
Desde os campos, o bosque, até aos montes.

Pelos ninhos sonoros, delicados,
Cantam e trinam muitos passarinhos
Nos altos arvoredos enflorados,
A margem verdejante dos calminhos,
Pelos ninhos sonoros, delicados.

As borboletas brancas e amarelas,
Azuis, cor de ouro, cor de prata e brasa,
Leves, ligeiras, tênues e singelas,
Abrem a fine talagarça da asa,
As borboletas brancas e amarelas.

Tudo no val acorda de desejos
À musica dos cantos mais risonhos;
E as aves soltas, peregrinos beijos,
Dizem, cantando, que através de sonhos
Tudo no val acorda de desejos.

II

Na alma da infância, tal e qual roseiras,
Abrem festões de límpida fragrância
Os sonhos e as quimeras passageiras
Que são mais próprias do vergel da infância,
Na alma da infância, tal e qual roseiras.

O pequenino coração ditoso
Canta canções de uma ave pequenina;
E é um encanto ver assim radioso
No peito de uma cândida menina
O pequenino coração ditoso.

A existência de sol das criancinhas
Lembra um pomar de frutas bem serenas,
Por onde os colibris e as andorinhas
Gozam amores sacudindo as penas,
A existência de sol das criancinhas.

Não sei dizer se adore mais crianças
Ou mais também as flores de um arbusto;
Nessas tão puras, castas semelhanças
Eu, para ser bem carinhoso e justo,
Não sei dizer se adore mais crianças.