Versos da mocidade (Vicente de Carvalho, 1912)/Ardentias/No Sahara

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NO SAHARA

Sob o infinito ceu se espraia, toda envolta
Em luar, a planura infinita de areia.
No chão que alveja, como um fantasma, passeia
E corre a sombra de uma informe nuvem solta.

No horizonte, bem sobre a planicie, vivazes
Como faróis no mar, ardem estrelas. Momo,
Afla o vento num bafo abrazado de fôrno.
A caravana, ezausta, adormeceu no oazis.


Repouza, entregue á paz do sono, o acampamento,
Emquanto a sentinela imovel, descançando
Na longa carabina a bronzeada mão,

Sonda, interroga em vão com o olhar sonolento
Os confins do dezerto onde, de quando em quando,
Reboam no silencio os urros de um leão.