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Visio (1864)

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Eras pallida. E os cabellos,
Aereos, soltos novellos,
Sobre as espaduas cahiam...
Os olhos meio-cerrados
De volupia e de ternura
Entro lagrimas luziam...
E os braços entrelaçados,
Como cingindo a ventura,
Ao teu seio me cingiam...

Depois, naquelle delirio,
Suave, doce martyrio

De pouquissimos instantes,
Os teus labios sequiosos,
Frios, tremulos, trocavam
Os beijos mais delirantes,
E no supremo dos gozos
Ante os anjos se cazavam
Nossas almas palpitantes...

Depois... depois a verdade,
A fria realidade,
A solidão, a tristeza;
Daquelle sonho desperto,
Olhei... silencio de morte
Respirava a natureza -
Era a terra, era o deserto,
Fôra-se o doce transporte,
Restava a fria certeza.

Desfizera-se a mentira:
Tudo aos meus olhos fugira;
Tu e o teu olhar ardente,
Labios tremulos e frios,
O abraço longo e apertado,
O beijo doce e vehemente;

Restavam meus desvarios,
E o incessante cuidado,
E a phantasia doente.

E agora te vejo. E fria
Tão outra estás da que eu via
Naquelle sonho encantado !
És outra — calma, discreta,
Como olhar indifferente,
Tão outro do olhar sonhado,
Que a minha alma de poeta
Não vê se a imagem presente
Foi a visão do passado.

Foi, sim, mas visão apenas;
Daquellas visões amenas
Que á mente dos infelizes
Descem vivas e animadas,
Cheias de luz e esperança
E de celestes matizes;
Mas, apenas dissipadas,
Fica uma leve lembrança,
Não ficam outras raizes.


Inda assim, embora sonho,
Mas, sonho doce e risonho,
Désse-me Deus que fingida
Tivesse aquella ventura
Noite por noite, hora a hora,
No que me resta de vida,
Que, já livre da amargura,
Alma, que em dores me chora.
Chorára de agradecida!