A Mulher na agricultura, nas industrias regionaes e na Administração Municipal/A mulher na administração municipal

Wikisource, a biblioteca livre

Esta página contém uma imagem. É necessário extraí-la e inserir o novo arquivo no lugar deste aviso. 

 
A mulher na administração municipal
 

 

A propaganda sufragista, no intuito de fazer compreender que universal não é sómente masculino, vai conquistando terreno lentamente, não devendo demorar muitos anos que êsse princípio de liberdade e de justiça seja aceite na Inglaterra, como já o está nos países escandinavos.

Nos povos latinos, se a campanha sufragista encontra oposição, no que diz respeito ao eleitorado geral e á elegibilidade feminina para deputado e senador, pouca ou nenhuma oposição encontra para os cargos dos municípios e juntas de paróquia.

Ou seja porque a experiência está feita em países de grandes responsabilidades, como a Inglaterra, os Estados Unidos, a Austrália, a Noruega, a Suécia, a Dinamarca, a Finlândia e outros, ou seja porque não ha pessoa inteligente que não compreenda o benefício imediato que o trabalho da mulher podia trazer a certos encargos municipais e paroquiais, o que é certo é que os meios ferrenhos inimigos do sufrágio feminino não se pronunciam abertamente contra esta primeira e mais importante fase da sua experiência político-administrativa.

Para honra das mulheres portuguêsas, aqui o dizemos: ha por êsse país fóra senhoras que seriam utilissimos elementos nas administrações municipais, onde se requer, sobretudo um grande amor a terra portuguêsa, que nas mulheres do nosso país é proverbial.

Sem querermos ofender nem desmerecer em coisa alguma o trabalho masculino, parece-nos justo esperar que da entrada do elemento feminino nas municipalidades resultará o fomento agricola, no sentido associativo, e uma eficaz protecção ao ensino agrícola, doméstico e industrial feminino.

Não queremos de forma alguma supôr, e muito menos insinuar, que os municípios exclusivamente masculinos, como teem sido, não estejam aptos a fazer tudo quanto fôr necessario no sentido de fazer progredir a nossa Pátria comum, mas o que é certo é que a humanidade não é tão numerosa, que possa, de ânimo leve, continuar a pôr de parte o trabalho e a inteligência de metade de si própria.

A República Portuguêsa necessita de chamar a si a mulher proprietària, a cultivadora, a industrial, que é já em todos os países civilizados uma fôrça respeitada.

Será ela, já o dissémos, a principal auxiliadora dos homens no trabalho de desenvolver a agricultura e correlativas industrias; será ela que naturalmente se encarregará de chamar as proletarias á associação, que lhes ensinará o caminho a seguir para, por sua vez, serem uma força civilizadora no lar. Será nela tambem que as professoras encontrarão apoio para a sua alta missão social.

Nos países em que a mulher tem já lugar na administração municipal, a experiencia tem demonstrado que a sua acção é benefica e moralizadora, interessando-se principalmente pela instrução, assistencia infantil e pública, higiene e melhoria das habitações, e jardins, repressão do alcoolismo, da prostituição, do jogo e tantos outros assuntos que á mulher mais de perto interessam, como mãe de familia.

Em todos os países que iniciaram já a cooperação feminina nos municipios, ela tem provado tão bem, que outros se lhe irão seguindo.

Depois da actual guerra europea, em que a mulher francêsa tem demonstrado tão altas qualidades de trabalho e disciplina, chegando mesmo duas senhoras a tomar a administração das mairies, por falta de homens chamados á fronteira, estamos certos que a França seguirá o exemplo da Inglaterra e dará entrada ás mulheres na administração municipal.

Esta página contém uma imagem. É necessário extraí-la e inserir o novo arquivo no lugar deste aviso.