Gentil infante, innocente
A Uma Creancinha.
J. da S. Maia Ferreira
Gentil infante, innocente,
Por que ledo assim sorris?
Oh! quem foi que docemente
Sobre os labios de rubis
Te imprimio com ternura
Doce beijo de candura?
Contas n’um riso a ventura
Que tua voz bem não diz.
Sentiste algum niveo braço
Unir-te ao seio d’amor
Por mui terno, estrito laço,
Com materno almo fervor?
Com doce, innocente inleio
Repoisaste em casto seio
De meiguices, d’amor cheio
Tua face de candor?
Como brincas, innocente?
Como estendes a mão-sinha,
Como pareces contente
P’ra quem meigo t’acarinha?
Tua vida é só folgar,
De collo em collo a pular;
Todos te vem afagar
Como a mui tenra pombinha.
Meu anjo, por que sorris
Esse riso tão do céo?
Como á innocencia condiz
Esse divo sorrir teu!
Oh! troquemos nossa vida —
A minha, aos gozos fugida,
Pela tua, não vivida,
Por teu sorriso sem véo.
És tenro, lindo botão
De mui linda branca rosa,
Vives no seu coração,
É comtigo venturosa:
Cresce, cresce, linda flôr,
E que nunca o dissabor
Sobre ti verta o pallor
Da sorte desventurosa.
Em manhã fagueira e bella
Seja o teu desabrochar,
Venha a doce philomela
Os teus dotes decantar;
Possas tu bem conhecer
Do mundo o vero prazer;
Que não vejas fenecer
Teus encantos, teu gozar.
Rio de Janeiro, 27 de Dezembro de 1848.