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CANTO IV.
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Amainando já vai a estranha dança;
Já vão minguando os circulos valsantes;
Tontos e frouxos já repousam muitos,
Até que em fim cançados todos param,
E em torno ao feiticeiro se acocoram,
Como egypcias estatuas de granito.
Só elle inda volteia, possuido
De algum demonio, que lhe agita os membros.
Que diabolicos gestos, que tripudios,
Que esgares faz, os olhos não tirando
Da magica armadilha! Já lhe banha
Todo o corpo o suor em grossas bagas.
Com rouca voz e sons interrompidos,
Que parece o bulhão d’agua que ferve,
Não sei que tetro canto sybillino,
Que horrenda evocação stá murmurando.
Nunca em Delphos a Pythia assim tão cheia,
Do deos que a enfurecia, e tão convulsa
Sobre a sagrada tripode arquejando
Soltou com voz confusa o seu orac’lo.
Só se lhe ouve dizer: – Mando eu que posso;
Quero e mando: obedece, Macachera ! –