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CANTO I.
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Para roubar-lhe o leito; e ronca e espuma,
Qual no lago, enlaçada a cauda a um tronco,
Feroz sucuriúba horrida ronca 2
Quando sente mover-se á flôr das aguas
Lontra ligeira, ou anta descuidada,
E inchando as fauces, a cabeça eleva,
Os queixos escancára, a lingua sólta,
Para de uma só vez tragar o amphibio.
Tal no pleito co’o Oceano o Amazonas
Para sorvel-o a larga foz medonha
Legoas abre setenta! A ingente lingua
Estende de tres vezes trinta milhas,
Como uma longa espada, que se embebe
Ao travez do Atlantico iracundo,
Que gemendo recúa no arremesso,
E em montes alquebrado o dorso enruga.
Armas que joga ao mar são grossos troncos
Arrancados na furia, são pedaços
De esbroadas montanhas que elle mina:
Seus gritos são trovões tão horrorosos,
Que alli parece submergir-se o mundo
Quando se incha seu corpo desmedido: