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A esperança
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do Ermelinda instava para que elle se desse por viuvo, Amaral dizia:

― Ainda não é tempo; deixa acostumar o meu anjo á minha vista. Ella falla-me tão pouco... e tem voz tão insinuante!.. Se ella me amar, adoral-a-hei toda a vida.

― Tens dito isso d'outras, respondia Ermelinda, e passados alguns mezes...

― Mezes?!.. Annos... muitos annos, o resto da minha vida. Será a ultima mulher que amarei; e tu não perderás com isso.

Maria Isabel vivia muito triste e inquieta. A lembrança de seus paes lhe fazia derramar muitas lagrimas, as continuas visitas d'Amaral e algumas de suas vistaas a atemorisavam.

E no entanto que fazia Maximino, de quem a donzella se lembrava, suspirando?

Uma fresca manhã, caminhava Maximino pela rua Chã, sem levantar os olhos das lages que pisava. Absorvido em tristes idéas, não olhava para os transeuntes, que acoteveleva sem ver. Deram-lhe uma palmada na espadua. Voltou-se. Era Alfredo que lhe disse, rindo:

― Que procuras com tanto cuidado nas pedras da rua?

Maximino sorriu com amargura.

― Mas que tens? Já não ha quem te veja! Porque não appareces? Como a minha visinha bonita se auzentou, já me não pões os pés em casa!

― Perdôr... Ando muito triste. Maria Isabel parece que foi levada da casa de Carolina ao engano: não se sabe aonde está, apesar das muitas pesquizas de Francisco.

― Por Satanaz!.. Deixas a outro o cuidado de procurar a tua bella?!

― Francisco póde procurar a hospeda de sua mãe, sem que isso fique mal á menina; e eu...

― Tu é que podias e devias procural-a. Amal-a e pertences á sua classe. Fareis ambos um lindo par.

― Ah! Alfredo! Eu sou menos ainda que Francisco. Elle poderia offerecer-lhe um futuro mesquinho, mas eu... nem esse lhe poderia offerecer. Eu tenho pae que respeito, mãe e irmã que adoro... não ousaria deixal-os para me unir á pobre orfã, ainda que tivesse meimos de sustental-a. O que eu queria era saber se ella está em segurança. Receio que a illudissem e a levassem ao engano para alguma sillada.

― Mas com quem sahiu de casa de Carolina?

― Com uma parenta, que não conheço, chamada Ermelinda, e que a visitava amiudadas vezes.

― Ah!.. Essa Ermelinda é tão sua parenta como eu. Vi-a em casa de Carolina; mas não dei importancia a isso. Julguei que era amisade do doutor de saias. A gente do povo não é delicada com as suas relações. A mulher mais honrada une-se ás vezes á que aberrou do caminho recto. Mas socega...

― E quem é essa mulher?!.

― Não te agites assim! Procuraremos todos até achal-a.

― Quem é Ermelinda?!.. Não me occultes.

― Foi amante d'um homem opulento; hoje está reformado e a meio soldo.

― Desgraçado!..

― Maximino! Estás dando espectaculo.

― E esse devasso é Amaral?

― Como adivinhaste o nome do tal senhor? Porém, dás em doido!

― Adeus.

E Maximino partiu quasi a correr.

― Estou arrependido do que disse, ficou pensando Alfredo. O pobre Maximino dará em doido.

O filho de Custodio da Cunha procurou Francisco e apenas o viu, disse-lhe agitado:

― Ermelinda é uma desavergonhada, e levou ao engano a infeliz orfã.

― Boa novidade me dá o sr. Maximino! replicou o maritimo. Isso sempre eu disse.

― E roubou-a d'uma casa honrada para vendel-a a um ricaço que eu conheço.

― Mas não levará a cabo a sua diabolica tenção. A snr.a D. Mariquinhas não se deixará levar como a rez ao matadoiro. Já sei aonde ella está.

― Aonde está, bom Francisco, aonde está: Vamos salval-a!

― Espere!.. Isso não vai assim. Ella não