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A esperança

 

de combatentes em frente dos quaes se achava; depois olhou para o ceu, como para invocar o favor divino, e gritou com toda a força!

Atacar!

(Continua).

 

 

Clotilde


Romance original


Por

Ephigenia do Carvalhal Sousa Telles

(De pag. 307)

Em breves momentos entravam no jardim o snr. Anselmo, precedido d'uma senhora.

― Menina ― grita alegremente a velha ― é seu thio, e a snr.a D. Joaquina.

Clotilde fez um esforço para os levantar, mas exhausto de forças tornou a cahir sobre o leito.

― Minha Clotilde, aonde estás? ― dizia a filha do Marquez subindo as escadas que condiziam ao quarto da sua amiga. A criada abriu a porta d'este, e as duas meninas precipitara-mse nos braços uma da outra.

― Elle morreu? ― murmuram ao ouvido da sua amiga, a sobrinha do snr. Cunha.

― Não sei ― balbuciou entre soluços a menina interrogada, meu pae partiu hontem para Coimbra concedendo-me licença de passar comtigo todo o tempo da sua ausencia: dentro de poucos dias teremos a certesa do que houvêr succedido, por que elle prometteu de me escrever logo que chegasse. Mas tu, minha querida, que tens?

― Nada ― murmurou Clotilde ― mesmo nada, uma irritação nervosa, de que estou melhor; a tua vista reanimou-me.

― Na tarde do seguinte dia, as duas meninas acompanhadas de Rosa, dirigiram-se ao cemiterio ambas de joelhos uma a par da outra enviavam lagrimas e orações, á mãe, e á amiga respeitavel, cujas cinzas alli jaziam.

Depois levantaram-se, um sorriso de resignação, e talvez de esperança animaça os palidos rostos das duas jovens.

A resignação tinha sahido d'essa campa que ellas acabavam de contemplar, a esperança tinha descido do céo para onde tinham vôado as suas orações.

― Ainda é cedo bastante, Josefina, e se tu queres podemos ir á Ermida da Serra.

― Pois vamos, porque desejo vêr o nosso velho mestre.

As portas do cemiterio fecharam-se, e as duas meninas, e a velha dirigiram-se para a Ermida da Serra.

III

A ermida

No principio d'este romance, vimos, de passagem, uma capelinha que se achava sobre um penhascoso monte; tambem vimos uma pequena casa de que é habitante um velho ermita; mas agora que temos tempo vamos examinar por miudo, Ermida, Velho, e habitação:

Junto á capella marmora um nascente d'agua crystallina, que sahindo da rocha vai cahir em um tanque feito pela natureza. Altos cyprestes, e frondosos freixos dão sombra e frescura áquelle sitio encantador: mezas, e bancas de pedra cobertos de espêsso musgo estão cimétricamente collocados debaixo das arvores.

Pinhas monstruosas vestidas de festões de hera; grutas deliciosas alcatifadas de verde relvas e forradas de arômaticas madre-silvas são os jardins, e quintas do pobre Eremita! Uma pequena sala adornada com duas cadeiras, uma mesa, e um armario; junto d'ella um quarto em que apenas cabe uma cama, e um baú, são a sua habitação.

Defronte d'esta casinha está a pequena capella da Senhora dos Remedios. Uma alva toalha veste o altar toscamente lavrado: uns castiçaes de pau, e uns vasos de barro grosseiro em que se viam alguns ramos de cypreste, são todos os armamentos que adreçam este templosinho da Virgem cuja imagem está já deteriorada pelo tempo que nada poupa.