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A esperança

 

― Ah! exclamou elle com assombro, tanto dinheiro! Seja o senhor Luiz José quem fôr, faço como Maria, agradeço e regeito o presente. A minha filha não acceita dinheiro de estranhos.

― Se essa é a razão, póde a sua filha Maria, acceitar esta bagatella. Ella ha-de ser a minha herdeira. Gostarei de occultar o meu nome.... porém, tudo bem considerado, tambem terei satisfação em abraçar a minha querida sobrinha!

― Ah, senhor, atalhou Maria Isabel, meu tio morreu ha muitos annos.

― Assim o fiz crêr, porque num casamento desgraçado que (fiz com essa mulher que tanto tem desgostado), me fez expatriar e mudar de nome. Posso dar-te provas da verdade.

― Será possivel?!.. O meu querido tio, que tanto me amava?..

E a filha de Ricardo de Oliveira se levantou duvidosa, se se lançaria ou não nos braços do tio que tinha chorado em criança. Elle porém não esperou que ella se resolvesse, e levantando-se, correu a ella e apertou-a ao coração, recordando-lhe passagens antigas. Depois que os animos socegaram tornaram a assentar-se, e o tio de Maria Isabel, partiu logo que lhe constára a desgraça da familia de seu irmão Ricardo; arranjára os seus negocios no Brasil e viéra a Portugal, para proteger sua sobrinha.

― E, como eu era, disse elle, amigo do capitão da Carolina, quiz vir no seu barco. Na viagem fiz particular conhecimento com Francisco, e d'elle soube tudo o que havia succedido á minha pobre sobrinha.

― Por isso v. s.a me fazia tantas perguntas!..

― Disse Francisco.

― E por ellas compreendi que eras o rei dos rapazes. Hontem, soube tambem por Francisco, que era hoje o dia do noivado da minha sobrinha. Agora é preciso que elle nos dê um dia tambem de bôdas. Nas suas narrações figurava muito a sua namorada numero dois, o que prova que ha o numero um.

― Essa senhor Luiz José, ou como é a graça de v.a s.a, é filha da senhora Josefa, que tem bons tostões, e não ha-de querer dar a sua filha a um pobre marinheiro.

― Não tem duvida. Eu offereço-me para levantar as difficuldades.

Alguns mezes depois casára Francisco com a filha da senhora Josefa; e a mãe do bom moço tinha o gosto de tomar posse d'uma casa que lhe comprou o tio de Maria Isabel.

Ermelinda foi viver longe com uma pensão que lhe estabeleceu seu marido, que reassumiu seu verdadeiro nome.

Maria Isabel foi feliz quanto se póde sêl-o n'este mundo cheio de agruras e tristezas, e fez feliz a familia a que se uniu.

E' coisa muito para lamentar que sogra e cunhada seja (como desgraçadamente é muitas vezes) o synonimo de inimiga. Na familia de Custodio da Cunha não era: amavam-se todos. Rufina e Maria Isabel, eram duas irmãs affeiçoadas. Adelaide amava-as a ambas egualmente.

 
Fim
 

Memorias d'um poeta


(De pag. 360)

― Telmo! Telmo! Ora que sempre uma nuvem de vaga melancolia hade vir innoitecer os teus relances de felicidade!... ― Pronunciou Vasco em extremo commovido e deixando rolar pelas faces duas grossas lagrimas ― Pois não é para ti felicidade o ter-nos ao teu lado, e não te consolam as melhoras que tens hoje