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tempéra e torna quimicamente tal como é preciso que ela seja para a sua industria de primores destinados á mêsa dos ricos.

A horta é vasta, plebeia e mais ou menos primitiva nos seus processos culturais, produzindo bom ou mau, á aventura da sorte e no tempo proprio, sujeita ao comercio que compra muito e barato sem seleccionar, para o grande publico que come naturalmente, por necessidade de viver, e não pelo gôso educado dos sentidos.

Ambas as formas da horticultura são uteis e a ambas a mulher portuguêsa pode e deve dedicar-se com amôr, porque, se uma dá mais lucros, a outras dá tambem menos riscos e trabalho, além da consoladora satisfação de alimentar muitos estomagos que sabem tristemente o que é a fome.

Nas huertas de Valencia — que admiravelmente descreve o distinto agronomo Menezes Pimentel na parte do seu trabalho, resultado da missão oficial de estudo de que se desempenhou cabalmente, intitulada «Frutas, Legumes, Flôres» — podemos vêr o que na Espanha se faz nêsse sentido e, comparando com o que na nossa terra se poderia fazer e não se faz, sentimo-nos vexados no orgulho legítimo de querermos ser sempre os primeiros.

É, pois, absolutamente urgente intensificar a propaganda agrícola e forçar a compreensão de todos quantos ainda hesitam no nosso país, nem sequer vendo o que se faz nos outros, para se chamar a mulher de trabalho a exercê-lo com mais utilidade e mais convicção do bem que realiza, e tirar da cri-