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O CASAMENTO DO NARIZINHO

Não sendo uma sardinha culta, julgou ella que o visconde estivesse caçoando e offendeu-se.

— Malcriado! Não se enxerga? retrucou botando a lingua.

E lá se foi em direcção ao palacio, toda empinadinha para traz, a resmungar contra o "estafermo".

O visconde, muito desapontado, ficou a reflectir comsigo que era uma pena serem quasi analphabetos os habitantes daquelle reino.


VI — O VESTIDO MARAVILHOSO


Emquanto a tragedia de Rabicó se desenrolava no camarote do navio afundado, Narizinho e Emilia escolhiam figurinos em casa de dona Aranha Costureira. Depois passaram a escolher fazendas.

Dona Aranha tirou dos seus armarios de madreperola um vestido côr do mar com todos os seus peixinhos, e com o maior pouco caso, como se fosse de alguma cassinha barata, desdobrou-o deante das duas freguezas assombradas.

— Que maravilha das maravilhas! exclamou Narizinho, de olhos arregalados, sentindo uma tontura tão forte que teve de sentar-se para não cahir.

Era um vestido que não lembrava nenhum outro desses que apparecem nos figurinos. Feito de seda? Qual seda, nada! Feito de côr — côr do mar! Em vez de enfeites conhecidos — rendas, entremeios, fitas, bordados, plissés ou vidrilhos, era enfeitado com peixinhos do mar. Não de alguns peixinhos só, mas de todos os peixinhos — os vermelhos, os azues, os dourados, os de escamas furta-côr, os compridinhos, os roliços como bolas, os achatados, os de cauda bicudinha, os de olhos que parecem pedras preciosás, os de longos fios de barba movediços — todos, todos!...

Foi alli que Narizinho viu como eram infinitamente variadas a fórma e a côr dos habitantes do mar. Alguns davam