idéa de verdadeiras joias vivas, como se feitos por um ourives que não tivesse o menor dó de gastar os mais ricos diamantes e opalas e rubis e esmeraldas e perolas e turmalinas da sua collecção.
E esses peixinhos-joias não estavam pregados no tecido, como os enfeites e applicações que se usam na terra. Estavam vivinhos, nadando na côr do mar como se nadassem nagua. De modo que o vestido variava sempre, e variava tão lindo, lindo, lindo que a tontura da menina apertou e ella se poz a chorar.
— E' a vertigem da belleza! exclamou dona Aranha sorridente, dando-lhe a cheirar um vidrinho de ether.
Emilia espichou a munheca para apalpar a fazenda ; queria ver se era encorpada.
— Não bula! murmurou Narizinho com voz fraca, ainda de olhos turvos.
O mais bonito era que o vestido não parava um só instante. Não parava de faiscar e brilhar e piscar e furtar-côr, porque os peixinhos não paravam de nadar nelle, descrevendo as mais caprichosas curvas por entre as algas boiantes. As algas ondeavam as suas cabelleiras verdes e os peixinhos brincavam de rodear-lhes os fios ondulantes sem nunca os esbarrarem nem com a pontinha do rabo. De modo que tudo aquillo virava e mexia e subia e descia e corria e fugia e nadava e boiava e pulava e dançava que não tinha fim...
A curiosidade de Emilia veio interromper aquelle extase.
— Mas quem é que fabrica esta fazenda, dona Aranha? perguntou, apalpando o tecido sem que Narizinho visse.
— Este tecido é feito pela fada Miragem, respondeu a costureira.
— E com que a senhora o córta?
— Com a tesoura da Imaginação.
— E com que agulha cose?
— Com a agulha da Phantasia.