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MONTEIRO LOBATO
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— Já sei! interrompeu Narizinho. Nesse caso você quer que tia Nastacia dê aquelle alfinete de pombinha carijó, não é?

A negra arregalou os olhos.

— Para que isso agora, santo Deus? Para que Emilia quer um alfinete de tanta estimação?

— Para ficar bem com você outra vez, respondeu a boneca.

Narizinho contou então o que se havia passado e de como por um triz ia Emilia commettendo a maior imprudencia de sua vida.

Tia Nastacia não queria dar o alfinete, mas tanto a menina amolou que afinal deu.

— Tome lá, ciganinha! disse ella tirando o alfinete do peito. Não sei de quem você puxou esse espirito interesseiro. Estou vendo o dia em que acaba pedindo os oculos e a dentadura de dona Benta. Crédo!...

Emilia bateu palmas de alegria e foi correndo mostrar o alfinete ao cavallinho, que era agora o seu grande amigo e confidente. Tinha-lhe posto um lindo rabo de penna de gallo e com elle passava os dias, brincando de chicote queimado, esconde-esconde e Bento que Bento frade.

Mas Emilia não tinha sossego de espirito. Havia enganado Pedrinho e receiava que de um momento para outro descobrisse elle o logro e lhe tomasse o querido brinquedo. O meio de evitar isso era Fazdeconta viver. Mas o diabinho teimava em conservar-se morto como um defunto.

Pedrinho havia achado certo fundamento na idéa do visconde (a idéa do assopro) e passou tres dias a experimentar o remedio, ás escondidas, para que não caçoassem delle. Chegou a ficar com as bochechas doloridas de tanto assopramento. Nada adeantou.

Emilia tambem procurou metter o boneco em brios. Chegou-se a elle, num momento em que não estava ninguem perto, e disse: