— Viva, bobo! Viva, senão Pedrinho bota você fóra. Viva, que te dou aquelle meu aventalzinho vermelho, que tem bolso.
Fazdeconta, porem, continuou impassivel. Nem sacudidelas, nem ameaças, nem assopros, nem promessas da boneca — nada o fazia sahir do seu estupido estado de embezerramento.
Um dia Pedrinho desesperou.
— Chega de amolação! disse elle. Já estou ficando bochechudo de tanto te assoprar e "tu não vive" nunca, sêo feiura. Vae-te para os quintos! e, agarrando-o por uma perna, jogou-o para cima do armario da sala de jantar.
Emilia assistiu á scena e percebeu que ia haver questão. Pedrinho lhe déra o cavallo em troca da idéa, "se fosse bôa". Quer dizer que se a idéa não provasse ter sido bôa, o negocio poderia ser desmanchado. Não que Pedrinho fizesse conta daquelle cavallo (que nem rabo tinha na occasião), mas só de implicancia.
A boneca pensou assim e pensou muito bem, pois naquelle mesmo dia, á tarde, Pedrinho chegou-se para ella e foi dizendo:
— Onde está o cavallo?
Emilia sentiu chegada a hora da briga. Empertigou-se toda, prompta para a lucta, e:
— Não é de sua conta! respondeu em tom de desafio.
— Passe para cá o meu cavallo! continuou o menino, fechando uma terrivel carranca de Barba Azul.
— Não sei do "seu" cavallo; só sei do "meu".
— Eu disse que dava o cavallo se a idéa fosse bôa, mas a idéa sahiu como o seu nariz e quero o meu cavallo.
— Pois vá querendo!
Pedrinho perdeu a paciencia. Xingou-a de cara de coruja secca (o peor insulto que havia para a boneca) e deu-lhe um beliscão.
Ah, o mundo veio abaixo! Emilia berrou, como se hou-