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O CIRCO DE ESCAVALLINHO

costurar, nem fazer coisa nenhuma. "Sem oculos não sou gente", costumava dizer. Nastacia e Narizinho já haviam batido a casa inteira, mas nem rasto encontraram dos de dona Benta".

Nisto a boneca approximou-se da pobre senhora, dizendo com o seu arzinho de santa:

— Todos já procuraram os seus oculos menos eu. Quer que procure?

— Que bobagem, Emilia! Pois se Nastacia e Narizinho, que são gente, não os acharam, você, que é uma simples boneca de panno, ha de achar?

— Tudo é possivel neste mundo de Christo, como a senhora mesma costuma dizer. Se quer experimentar a minha habilidade de achar coisas...

— Pois procure. Quem impede você disso?

— Quanto a senhora paga?

— Interesseira! Pago o que você quizer. Um tostão, por exemplo.

Emilia deu uma risada gostosa.

— Tinha graça! Era só o que faltava eu procurar oculos para ganhar um tostão! Meu preço é 3$000.

— Você está louca? Não sabe que 3$000 é quasi o preço de um par de oculos novos?

— Não sei, nem quero saber. Só sei que meu preço para procurar oculos de velha é 3$000 — e em notas novas. Se quer, bem; se não quer...

— Quero, quero, respondeu a velha já meio damnada. E quero tambem que você vá brincar e não me amole mais.

Emilia sahiu a procurar os oculos por todos os cantos e dalli a cinco minutos gritava:

— Achei, achei o fujão! e veio correndo ao encontro da velha com os oculos no ar.

A velha abriu a bocca, de espanto.

— Onde estavam, Emilia?

— Dentro do bolso da sua saia de gorgorão amarello.