Página:As Reinações de Narizinho.pdf/264

Wikisource, a biblioteca livre
MONTEIRO LOBATO
253

II — PREPARATIVOS


Depois voltou para casa correndo, afflicto por contar a Narizinho o estranho acontecimento. Contou tudo, num atropelo.

A menina abriu a bocca. Era espantoso!

— Mas que geito tinha elle? indagou, ardendo em curiosidade.

— Como posso saber, se era invisivel? A voz parecia de menino. Tem minha altura e minha idade. Gosta de cantar como gallo, tal qual Peter Pan. Desconfiei que fosse Peter Pan mas a voz declarou que não, que nem de nome o conhece.

— E' extraordinario! murmurava Narizinho, olhando para o mappa aberto no chão. Venha ver, Emilia.

A boneca, que estava brincando de esconder com o visconde, veio depressa, no seu andar muito tesinho, tóc, tóc, tóc. Olhou o mappa, fez suas criticas e, dando com o chiqueirinho de Rabicó, berrou:

— Ande, visconde, venha ver uma coisa! E como o visconde não viesse logo, correu a buscal-o, fincando o pobre sabio no mappa com tanto estouvamento que furou o Mar dos Piratas.

Depois de olhado e reolhado e decorado aquelle mappa, Pedrinho pensou nos preparativos.

— Temos de resolver tudo já, porque amanhã de madrugada é a partida. Antes de mais nada preciso saber quem vae e quem não vae.

— Acho que devemos ir todos, menos Rabicó, opinou a menina. Rabicó está muito malcreado. Vae Emilia, vae Fazdeconta, vae o visconde.

— Fazdeconta, não! berrou a boneca. Tenho vergonha de andar com uma feiúra. daquellas. O visconde, sim, porque preciso delle.