Página:As Reinações de Narizinho.pdf/265

Wikisource, a biblioteca livre
254
A PENNA DE PAPAGAIO

Venceu a opinião da boneca. Fazdeconta ficava e o visconde iria.

— E bagagem? lembrou a menina. Valerá a pena levar alguma?

— Acho que não, disse Pedrinho. O menino invisivel é da marca de Peter Pan, dos taes que sabem dar geito para tudo e fazer surgir o que é preciso. Foi essa a minha impressão.

Ficou resolvido não levarem nada.

— Muito bem, disse Pedrinho. Nesse caso tratemos de dormir mais cedo, porque temos de sahir madrugadinha.

Dona Benta estranhou aquella ida para a cama tão antes da hora e disse para tia Nastacia: "Temos novidade amanhã!”...

Só Emilia não foi dormir. A boneca tinha idéas especiaes sobre tudo e fazia tudo differente dos outros. Porisso resolveu levar bagagem, passando parte da noite a arrumar uma celebre canastrinha de couro que dona Benta lhe déra. Poz dentro uma penna de papagaio, uma perna de tesoura de unha encontrada no lixo, aquelle famoso alfinete de pombinha que filara da negra e mais uma porção de quitanda.

— A gente precisa se precatar, dizia ella, no meio do quarto, de mãos na cintura, repetindo uma phrase que tia Nastacia usava muito.

Vendo que não havia esquecido de coisa nenhuma, tratou de fechar a canastra. Não poude. Estava cheia demais.

— Visconde! berrou. Venha me ajudar a "expremer" esta malvada.

O pobre visconde de sabugo, cada vez mais verde de bolor e todo duro de rheumatismos no pé, veio lá do seu canto, gemendo.

— Sente-se em cima e exprema a tampa até arrebentar.

Felizmente para o visconde não foi preciso tanto. A