— Eu tambem não tenho medo de nada, senhor barão! disse Emilia, com aquelle seu celebre espevitamento.
— Oh, exclamou o senhor de Munkausen, pegando-a do chão. Se não me engano é esta a tal boneca de panno falante que está famosa no reino das fadas. Não ha princeza que não conte historias della.
Emilia inchou de gosto.
A conversa correu nesse tom por alguns minutos. Por fim dona Benta abriu o cesto onde estava a gallinha mexida que trouxera.
— Acceita uma coxinha, senhor barão?
— Obrigado! Só como carne de animaes ferozes.
— Um pedacinho só, prove! insistiu dona Benta. Este mexido foi feito com o frango mais valente do terreiro.
Tão cheiroso estava o petisco que o senhor de Munkausen perdeu a cerimonia. Sentou-se no chão, com os outros, em roda do farnel, e quasi que sózinho deu cabo de tudo.
— Parece um sonho! disse dona Benta ao ver aquillo. Quando me lembro que eu, a pobre da dona Benta de Oliveira Encerrabodes, uma coitada que nunca sahiu da sua tóca, está aqui, neste deserto mysterioso, com o passaro Roca a lhe voar em cima da cabeça e o mais famoso barão do mundo a comer com tanto gosto o mexido de gallinha que ella mesma fez, até fico boba...
IV — UM SOCCO HISTORICO
Nisto o passaro Roca principiou a descer, sempre descrevendo circulos em espiral. O burro foi-se tornando cada vez mais visivel e a pontada no coração de dona Benta cada vez mais forte.
O barão preparou-se. Examinou a arma e carregou-a, bem carregada.
Pedrinho não podia comprehender como um caçador daquelles, o mais celebre de todos, ainda usava espingarda