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O PÓ DE PIRLIMPIMPIM

de pederneira, em vez das modernas espingardas de fogo central. A explicação é muito simples. O senhor de Munkausen era do tempo das espingardas de pederneiras e pois não podia conhecer as de fogo central.

— Veja, vovó, disse o menino, mostrando a espingarda á velha. Chama-se espingarda de pederneira porque tem esta pedra de isqueiro aqui junto ao ouvido. O gatilho dá na pedra e tira uma faisca que vae incendiar a polvora. Interessante, não?

Dona Benta nem ouviu. Estava de olho mas era no passaro Roca.

— Uma vez, contou o senhor de Munkausen, perdi a pederneira desta mesma espingarda, numa das minhas caçadas, justamente quando um veado ia passando. Pensam que me atrapalhei? Fiz pontaria e — bá! dei um socco formidavel no olho. Sahiu uma faisca inda melhor que as da pederneira — e matei o veado!...

Emilia, assim que ouviu aquillo, ficou ansiosa por ver o barão repetir a façanha e, sem que ninguem percebesse, deu geito de destacar a pederneira da espingarda e escondel-a. Queria ver se elle tirava mesmo fogo dos olhos ou era peta.

O passaro Roca ia continuando a descer.

— Atire, barão! disse Emilia.

— Inda é cedo, bonequinha! O cabresto inda não está bem visivel. Tenho que cortar o cabresto com uma bala no momento em que o passaro estiver voando sobre o mar. Senão o burro cae em terra e acontece como o sapo que foi á festa do céu — esborracha-se!...

A gigantesca ave desceu mais e mais. O cabresto tornou-se por fim bem visivel.

— E' hora! disse o Barão erguendo a arma á cara. Fez pontaria e — plef! — o gatilho deu em secco.

— Com seiscentos milhões de trabucos! praguejou elle. Onde teria ido parar a pederneira desta arma?