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— Nunca! — exclamou Carlos — porque é que havemos de dormir com mais comodidade do que você? Já basta o que você tem feito por nós!

— Pois não seja essa a dúvida! — disse Juvêncio. — Caberemos os três dentro do couro!

Alfredo ergueu-se , e, chegando à porta do rancho, espiou a noite:

— Ih! Como está escuro!

Era uma noite sem luar. Mal se divisavam os vultos negros das árvores mais próximas. Mas o céu estava cheio de estrelas. O sítio permanecia quieto, silencioso, adormecido, numa serenidade infinda. De longe, vinha uma viração fresca e suave, que acariciava a face do menino. Carlos e Juvêncio, que tinham seguido Alfredo até a porta, ficaram ali apreciando aquela calma da noite.

— Sim! — disse o rapaz sertanejo — a noite está escura, mas tranqüila e estrelada. Felizmente para nós! Se fosse uma noite de tempestade, então teríamos de sofrer horrores, aqui, sozinhos, neste deserto! E as trovoadas por aqui são medonhas... Já vi chover pedra, — cada pedra do tamanho de um ovo de pomba. Depois as pedras desmancham-se em água; — mas, quando caem, quebram telhados, e arruinam plantações inteiras...

— E são pedras verdadeiras?

— São pedras de gelo. Vamos para a nossa cama, ou antes para o nosso couro! Daqui a pouco, hei de contar-lhes como passei uma noite dessas, sozinho, no meio do mato.