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AVENTURAS DE HANS STADEN
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muta das mercadorias, com as maiores precauções de lado a lado porque um não confiava no outro.

Concluida a transação, recomteçava a guerra. Os indios despediam uma nuvem de flechas contra o navio e este por sua vez despejava os seus canhões contra os indios.

— Ora que curioso ! exclamou Pedrinho. Está aí um costume que nunca imaginei possivel.

— Era como se dissessem: inimigos, inimigos, negocios á parte, acrescentou dona Benta. No fundo, a necessidade os obrigava a isso. Uns não podiam passar sem anzois, outros não podiam passar sem farinha. O armisticio resolvia o apuro de ambas as partes, como breve parentesis na luta que só teve fim quando os indios foram completamente exterminados.

O navio em questão entrou no porto e deu o tiro de aviso. Vieram os indios. Desta vez, porém, não era farinha que os peros queriam. Apenas desejavam saber noticias de Staden. Disseram mais que estava a bordo um irmão de Hans, com muitas mercadorias destinadas a ele.

Os indios parlamentares voltaram do navio com essa boa nova, e Hans pediu que o deixassem conversar com o seu irmão.

— “Quero pedir a meu irmão que conte a meu pai a minha historia e lhe peça que venha buscar-me com um navio cheio de presentes para vós”.

Os selvagens acharam justa a pretensão; impuseram-lhe, todavia, que não falasse com nenhum português. Andavam a preparar em segredo uma expedição contra a Bertioga e receavam que o prisioneiro os traisse.