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MONTEIRO LOBATO

— “Nada temais, disse-lhe Hans; os peros não compreendem a minha lingua, nem a do meu irmão que está a bordo”.

Os indios deixaram-se embaçar e levaram-no á distancia de uns cincoenta passos do navio. Dali Hans gritou:

— “Deus seja convosco, irmãos. Que venha um só falar comigo e não deixe perceber aos indios que não sou francês”.

— Mas os indios não estavam a ouvir essa fala? perguntou Pedrinho.

— Sim, estavam; mas esses índios não entendiam a lingua dos portugueses, porque viviam em guerra com eles e sempre que apanhavam algum, em vez de o tomarem para professor, preferiam comê-lo assado. Desse modo podia Hans falar livremente, sem receio de ser entendido.

Em resposta ás suas palavras adiantou-se o biscainho João Sanchez e disse:

— “Meu querido irmão, aqui vimos em busca de noticias vossas, visto como o primeiro navio mandado nenhuma nova pôde levar. Quem nos envia é o capitão Braz Cubas, de Santos, o qual deseja saber se estais vivo, afim de vos resgatar”.

Hans retomou a palavra ;

— “Que Deus vos recompense eternamente, pois vivo em grande aflição, sem saber o que estes selvagens querem de mim. Só sei que já me teriam devorado, se Deus não me houvesse protegido. Eles recusam-se a vender-me, pois esperam que meu pai venha de França buscar-me num navio cheio de presente. Peço-vos que não os deixeis suspeitar que não sou francês, pois que isso