Página:Contos paraenses (1889).pdf/121

Wikisource, a biblioteca livre
CONTOS PARAENSES
115

caír sentado e chorando copiosamente. — Pois assiste á morte do teu coração, visto assim o desejares: ouve-me!

Pela janella aberta, via-se o vastíssimo campo do lado oeste da fazenda, coberto d’uma vegetação uniforme de capim crestado pelo sol. Vitellos saltavam ás cabriolas e grandes bois mansos, muito gordos e vagarosos, pastavam tranquillamente os fios de curto capim secco, abanando as longas caudas n’um compassado movimento automatico. Ao longe, um toiro preto, perfilado e sério, olhava para a linha escura do horisonte, entretido em lamber as ventas lustrosas de ranho com a flexivel lingua côr de cinza de charuto. Um cheiro almiscarado d’erva sêcca e de excremento de boi subia até ao quarto. Vaqueiros zangarreavam n’umas flautas campestres, muito rudimentares, feitas de talos de mamãoseiro. Urros melancholicos de vaccas chamando pelas crias casavam-se com essas faceis melodias bucolicas, vibravam pelo espaço em propagações suaves que, dilatando-se cada vez mais, perdiam-se no ar como um suspiro flebil de extrema ternura. E da linha do horisonte, que recortava-se muito distante sobre o azul escuro do ceu, levantava-se vagarosamente a noite, magestosa e tranquilla em sua imponencia seductora.

O velho enxugou as lágrymas e começou a falar.