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MARQUES DE CARVALHO

reluziam em cima do toucador de jacarandá, lançavam scintillações cambiantes ao espelho inteiriço do grande guarda-roupa que havia no meio de uma das paredes lateraes.

Ao fundo erguia-se a cama, — pudicamente occulta entre as rugas de um cortinado de labyrintho finíssimo, suspenso do tecto por uma passadeira doirada.

Levantava-se d’aquella cama um quê de evaporação de felicidade inenarravel, que penetrava no espirito dos dois esposos pelos sentidos do olfacto e da vista. Parecia-lhes acharem-se deante do tabernaculo de seu amor, do altar de sua existencia feliz e encantadora. Para Candida, sobretudo, ella tinha uma importancia transcendental: evocava-lhe uma recordação agri-dôce, que fazia-a sorrir bondosamente depois de nove mezes de agradabilíssima co-habitação conjugal....

Quando iam deitar-se, Candida enlaçou a cabeça do marido com os braços descobertos, — mal vestida, apenas velada por uma curta camisinha de cambraia enfeitada de rendas do Ceará.

Roberto beijou-lhe as carnes, aspirando-lhes os mornos effluvios, — essas queridas exhalações de mulher amada, — n’um enlanguescimento concupiscente.