Página:Contos paraenses (1889).pdf/150

Wikisource, a biblioteca livre
144
MARQUES DE CARVALHO

pena ultima, dependurados, um defronte do outro, em dois galhos de sombrosa sumahumeira!

Escaparam ao rábido furor dos revoltosos Aniceto e seus paes, que embrenharam-se precavidos nos profundos recessos da floresta. De sua casa haviam presenceado o que passava-se na róça fronteira e nem um só momento o rapaz, aquelle mesmo namorado férvido da vespera, sentiu um assomo de correr a vingar o ultrage a que tinham-lhe submettido a noiva! Admire que sinceridade a d’aquella paixão, doutor, dias antes apresentada em labiosas florituras de phantasticos arremessos idyllicos! Que grande coração, o d’aquelle homem!

Fugiu, poltronamente, cheio de medo, sem um remorso que, exprobrando-lhe a indignidade, propellisse-o a ir morrer no sitio onde haviam insultado a sua noiva, — sem ir arrebentar os miólos de um dos abjectos infames, ainda mesmo quando tivesse a certeza de ser feito pedacinhos pela tropa dos sicarios!

Annos depois, quando estabelecera-se a pacificação na provincia, a Eufrasia encontrou-o em casa, muito satisfeito e cynico, a viver na companhia de torpe mulata animalisada por uma vida de largas materialisações soezes e gordurosas.

Ainda podia rir, ainda tinha canções para zangarrear ao som do cavaquinho!