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MARQUES DE CARVALHO

vaqueiro, como vim logo a saber, por informações ministradas pela visinhança, com grande vergonha dos meus brios de homem robusto, completo, valente e, na minha valiosa opinião, não de todo incapaz para o principal fim a que visava aquella ardente mulher material e voluptuosa.

"E que pensa o senhor que eu fiz para a castigar? Que a persegui com as leis do seu paiz em punho? Que fui buscal-a ao meio dos touros de Marajó, onde, por certo, ella repousava, muito languida e sensual, nos braços do cyclopico vaqueiro? Que expuz á irrisão publica, ás chufas da plebe, a ignara patifaria de minha mulher e a irreparavel deshonra do meu nome? Nada d’isso, meu caro! Deixei-a ir, sem me incommodar! Olhe, mandei-lhe mesmo umas camisas e anagoas de que se esquecera com a precipitação da fuga! Veja até que ponto fui complacente. Veja que santa bondade a minha!

"A desgraçada morreu um anno depois, victima de béri-béri; pois bem; para mostrar a Deus que não sou de todo mau, mandei por alma de minha mulher resar, na egreja do Carmo, uma triste missa de requiem, a que assisti com respeito e piedade."

Calou-se, sem uma commoção no rosto ou na voz. Falava como se tratasse do tempo ou da côr do céu n’aquelle momento: com a maxima placidez. E logo o seu velhaco