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MARQUES DE CARVALHO

do homem rico que vive contentíssimo da sorte.

Creara para a filha um ideal — um casamento com um bacharel. Similhante aspiração, incontestavelmente modesta, fizera o velho procurar certa roda, para a frequentar, quando a filha chegou aos 15 annos. Viuvo, — a mulher morrera-lhe de parto, ao dar á luz um ente rachítico, inviavel, — deixava a filha nos salões e ia procurar as mesas de jogo, para encurtar o tempo.

Assim andaram os dois, por espaço de muitos mezes, em verdadeira peregrinação á cata de casamento, quando, afinal, a sorte quiz attendel-os e appareceu-lhes na fórma de um elegante mancebo, que dias antes chegara de Pernambuco, sobraçando o pergaminho que lhe conferia o titulo de bacharel em direito. O dr. Alfredo sentiu-se captivo das graças de Paula. Aquella cutis morena e avelludada; os olhos d’ella, — duas bólas d’onix engastadas em amendoas de jaspe, sombreadas por longos cilios sedosos; — os longos cabellos d’ébano, ondeando-se-lhe pelas espaduas de farta carnação; aquelle bonito torso de opulentos seios na apojadura da juvenilidade; — tudo n’ella prendia-lhe o enamorado espirito em os laços d’uma paixão tão sincera quanto profunda. Mas, sobretudo, o que mais o encantava, aquillo que mais o arrebatava a grandes êxtases gososos, debuxando-lhe nos labios um sorriso espiritualisado e