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CONTOS PARAENSES
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prenhe de beatitude, eram os alvos dentes que perlavam as carminadas gengivas d’ella, quando Paula fitava-o sorrindo, com duas covinhas sobre as faces, bem junto ao rosto d’elle, como desejando magnetisal-o.

Uma tarde, após haver contemplado os dentes da noiva por muitas horas, foi para casa com a alma perfumada pelo prazer e tão enthusiasmado sentiu-se, que sentou-se á secretária e entrou a fazer uma poesia, — elle que jámais fizera versos! — uma poesia em que abundavam as palavras — seductora virgem, divinal espirito archangélico, em uma terrivel mescla d’enormes pés quebrados, com grande escandalo das regras formuladas por A. Feliciano de Castilho.

Finalmente, chegou o almejado momento do enlace matrimonial.

Preparando-se afim de ir para a egreja, Alfredo só pensava nos dentes da noiva, n’esses bellos dentes muito brancos e pequenos que tanto o encantavam.

E phantasiava um capricho, cuja lembrança era sufficiente para lhe dar ao corpo agradaveis tremores e arripios: a si mesmo promettia que o primeiro beijo que désse á mulher seria nos dentes, bem no meio da bocca!

Afinal, aquelles dentes eram uma obsessão para Alfredo. Para qualquer parte que volvesse os olhos, parecia-lhe avistar os dentinhos de Paula sorrindo-lhe amoravelmente,