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LV

Um soneto.

Dita a palavra, aperlou-me as mãos com as forças todas de um vasto agradecimento, despediu-se e saiu. Fiquei só com o Panegyrico, e o que as folhas delle me lembraram foi tal que merece um capitulo ou mais. Antes, porém, e porque tambem eu tive o meu Panegyrico, contarei a historia de um soneto que nunca fiz; era no tempo do seminario, e o primeiro verso é o que ides ler :

 Oh! flôr do ceu! oh! flôr candida e pura!

Como e porque me saiu este verso da cabeça, não sei; saiu assim, estando eu na cama, como uma exclamação solta, e, ao notar que tinha a medida de verso, pensei em compor com elle alguma cousa, um soneto. A insomnia, musa de olhos arregalados, não me deixou dormir uma longa hora ou duas;