Página:Dom Casmurro.djvu/173

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e o outro com grande brio :

 Perde-se a vida, ganha-se a batalha!

A sensação que tive é que ia sair um soneto perfeito. Começar bem e acabar bem não era pouco. Para me dar um banho de inspiração, evoquei alguns sonetos celebres, e notei que os mais delles eram facilimos; os versos saíam uns dos outros, com a ideia em si, tão naturalmente, que se não acabava de crer se ella é que os fizera, se elles é que a suscitavam. Então tornava ao meu soneto, e novamente repetia o primeiro verso e esperava o segundo; o segundo não vinha, nem terceiro, nem quarto; não vinha nenhum. Tive alguns impetos de raiva, e mais de uma vez pensei em sair cia cama e ir ver tinta e papel; póde ser que, escrevendo, os versos acudissem, mas...

Cançado de esperar, lembrou-me alterar o sentido do ultimo verso, com a simples transposição de duas palavras, assim :

 Ganha-se a vida, perde-se a batalha!

O sentido vinha a ser justamente o contrario, mas talvez isso mesmo trouxesse a inspiração. Neste caso, era uma ironia : não exereendo a caridade, póde-se ganhar a vida, mas perde-se a batalha do ceu. Criei forças novas e esperei. Não tinha janella; se tivesse, é possivel que fosse pedir uma ideia á noite. E quem sabe se os vagalumes, luzindo cá em baixo, não seriam para mim como rimas das estrellas, e esta